quinta-feira, 10 de junho de 2010

O tomismo e sua importância na Igreja

Tomás de Aquino, filho de família dos Condes de Aquino, nasceu em 1225, no Castelo de Roccaseca, na Itália. Ingressou por volta dos cinco anos no universo do conhecimento na Abadia Beneditina de Monte Cassino; na juventude, entrou na Universidade de Nápoles. Aos dezenove anos tornou-se frade dominicano, estudando em Paris. Fez o bacharelado entre os anos de 1252 a 1256 e uma ‘qualificação’ para professor entre os anos de 1256 a 1259, nesse período lecionou em Agnami, Orvieto, Roma, Viterbo, cidades da Itália além de contribuir com os Papas e os bispos da sua época.
Santo Tomás viveu intensamente para a Igreja e para sua Congregação, fez diversas palestras, locuções, e exerceu intensamente a arte da escrita, deixando-nos inúmeras obras, algumas com caráter enciclopédico, tal como a ‘Suma Teológica’ e como a ‘Suma contra os Gentios’. Tinha interesses por textos apologéticos, de exegese bíblica, exercitou-se em obras teológicas de cunho dogmático e jurídico, e fez de modo próprio e original uma sistematização da teologia, com um caráter filosófico.
Podemos organizar as obras de santo Tomás em quatro grupos :
Comentários: à lógica, à fisica, à metafísica, à ética de Aristóteles; à Sagrada Escritura; a Dionísio pseudo-areopagita; aos quatro livros das sentenças de Pedro Lombardo.
Sumas: Suma Contra os Gentios, baseada substancialmente em demonstrações racionais; Suma Teológica , começada em 1265, ficando inacabada, devido à morte prematura do autor.
Questões: Questões Disputadas (Da verdade , Da alma , Do mal , etc.); Questões várias.
Opúsculos: Da Unidade do Intelecto Contra os Averroístas; Da Eternidade do Mundo, etc.
Tendo contribuído significativamente para a Filosofia e a Teologia do seu tempo, estava sempre na postura de servo. É como um servo disponível ao Pastor que Tomás, no ano de 1274, é solicitado pelo Papa Gregório X a comparecer ao Concílio de Lyon. Ao longo da viagem Tomás já debilitado não resiste aos extenuantes trabalhos intelectuais que fazia e, hospedado no Mosteiro Cisterciense em Fossa Nova, veio a falecer no dia 07 de março de 1974.
Se nos primeiros anos de estudo por ser muito calado e discreto, se dizia que era como que um “Boi Mudo”, ao aprofundar-se nos estudos sua começa a ser ouvida pela Igreja e fora dos muros dela. Sua santidade não demorou muito para ecoar pelo mundo por isso foi canonizado pelo Papa João XII em 1323. Como o rugido do “boi mudo” já se fazia ouvir por todo o mundo foi cognominado pelo Papa Pio V em 1567 de “Doutor Angélico”.
Foi aluno de Santo Alberto Magno e sofreu influências filosóficas dos árabes Averróes: este afirmava a subordinação da religião à filosofia, quando as argumentações dela fossem contrastantes, e considerava a religião como uma filosofia simbólica para o vulgo, e também de Avicena; este tentou harmonizar a filosofia aristotélica com a religião islâmica; estes tinham por base Aristóteles. Tomás aprofundou seus estudos neste filósofo e se refere a ele como O Filósofo. Santo Tomás toma os conceitos aristotélicos de matéria e forma, substancia e acidente, ato e potência, essência e existência e, sobretudo o problema do ser e os modos de ser, além de abordar a metafísica, a moral e a ética para redigir toda a sua obra.
Segundo Marías, Tomás de Aquino está preocupado com a demonstração da existência de Deus e a explicação da sua essência naquilo que lhe é possível, preocupa-se também com a doutrina da alma humana enquanto espiritual e imortal, com a ética como orientadora para a vida sobrenatural e o problema dos universais.
Os escritos de Santo Tomás de Aquino têm uma característica própria de “análise, definição e classificação”, procura o esclarecimento da natureza das coisas, relata sobre a existência e a razão para todas as coisas serem de tal modo como são. Usa do método dedutivo-empírico para chegar aos conceitos, utiliza-se da dimensão teológica separando “as verdades obtidas por meio do raciocínio daquelas que recebeu por meio da revelação divina.”
Ao falar do pensamento de Santo Tomás, não se pode deixar de falar da prova da existência de Deus, pelas cinco vias: ao fazer essa demonstração, ele refuta a prova ontológica de Santo Anselmo, em que tenta provar a existência divina pelo argumento ontológico, a partir do conceito mesmo de Deus; daí o porquê ele ser inconsistente. Segundo Dom Estevão, o argumento de Santo Anselmo é falho, porque ele parte da ordem lógica para a ordem ontológica e real, afirmando ser Deus absolutamente perfeito e que na inteligência, do homem, ele deve ter a perfeição da existência, porém, nem tudo que concebo na mente deva existir fora dela.
As cinco vias se dividem em dois grupos: as primeiras partem da realidade objetiva do universo; enquanto que as demais partem da realidade moral e da verdade, que é também um principio filosófico. Para o Aquinate, ao explicar a existência de Deus, ele estava falando de algo que envolve todo o ser da pessoa, o homem em sua completude, sua inteligência, vontade, afetos ou ainda, ao constante vir-a-ser, que caracteriza todas as coisas do mundo .
Como em todos seus escritos, Tomás usa dos critérios de argumentação e da refutação, para explicar a existência de Deus. Eis um exemplo de como escrevia: se a existência de Deus é auto-evidente, conclui-se que deva ser demonstrada, e se não se pode ser demonstrada deverá ser auto-evidente; e se for demonstrada levar-se-á em conta que será demonstrada ela a partir de seus efeitos. As cinco vias se apresentam da seguinte forma:
1ª via: Baseada no movimento, tudo o que se move é movido por algo, por um ser movente. Há uma cadeia de movimento e não se pode admitir uma regressão ao infinito nesse movimento. Logo, esse primeiro movente imóvel é infinitamente Perfeito, é ato puro, pois não se move a si mesmo, porque a mudança, própria do movimento, implica imperfeição, este movimento pode ser tido também como a passagem da potência ao ato.
Considera-se essa via como espiritual, pois Deus ser espiritual não passa por mudanças e pelas ações de causa e efeito. Sendo Deus um ser espiritual é um ser dotado de inteligência, de livre vontade, propriedades essenciais aos seres espirituais, enquanto que a matéria e os seres corpóreos se desgastam e são essencialmente imperfeitos, porque passam pelo constante movimento de ser-e-não-ser, sofrendo ações de causa e efeito. Deve-se levar em conta também Deus como um ser eterno, que não teve começo e não terá fim, diversamente das coisas do mundo que são marcadas pela temporalidade que é a medida do movimento. Por último, Deus todo poderoso, princípio do movimento do universo inteiro, seu poder está presente em tudo aquilo que Ele move ou a todo o Universo.
2ª via: da causalidade: nada pode ser causa eficiente de si mesma, se fosse seria anterior a si próprio. Como não se pode ter um processo ao infinito de causas, Deus é a primeira causa causante, pois não é ser causado, mas é causa absoluta. Esta prova apresentada é independente da evolução (causalidade) linear; a causalidade refere-se à transmissão da energia, mas não explica a fonte da dessa energia e da causalidade respectiva. Por isso, seria necessário explicar a existência do universo concebido como um todo. Ex: causa causada: causa causante: causante não causado, o absoluto, Deus.
3ª via: é um argumento cosmológico da necessidade e contingência. Todas as coisas que existem começam a existir a partir de algo que já existia. É preciso que algo que existe seja necessário de um outro, logo, Deus é a origem de toda a necessidade, onde Ele é o primeiro Ser, o Ser absoluto. Deus é o ser (existência) e todos os demais receberam o ser (existência) dele, assim o mundo é composto de seres contigentes e limitados como cada uma das suas partes.
4ª via: Esta trata dos graus de perfeição. Tudo aquilo que foi criado por Deus enquanto criação divina possui perfeições em graus limitados neste mundo. Cada ser possui sua natureza (essência e existência) características de acordo com a sabedoria divina. Da existência mesma subsistente de Deus, da qual se derivam os atributos de causa exemplar, ou seja, todos os seres imitam pelo fato de participarem limitadamente de suas perfeições; causa final para a qual todos tendem; causa eficiente da qual todos os seres recebem a existência participada. Assim, se Deus é o criador de todas as coisas ele transfere a existência, ou seja, o ser a todas as coisas. O Aquinate aponta ainda nesta via que uma perfeição pode ser simples, pura quando o conceito diz somente a perfeição. Ex: bondade, justiça, sabedoria, etc. E uma perfeição pode ser mista quando seu conceito implica alguma imperfeição, ex: sensibilidade, corporeidade etc.
5ª via: Da ordem e da finalidade do universo. Esta pode ser explicada a partir de três momentos: a) não se pode deixar de perceber que no universo há uma ordem estupenda e uma tendência de múltiplos elementos em demanda de um fim bem determinado; b) no universo há uma ordem maravilhosa, tão segura que tende a fim supondo por sua vez, que exista uma Inteligência que as tenha concebido e produzido; c) o Ser Inteligente (Deus) que se deixa a descobrir há de ser absoluto e ilimitado, iniciado, pois Ele se deve não apenas o ato de dispor em ordem alguns seres que Ele concebe, mas igualmente o de conceber o plano do universo inteiro e de cada um dos seus componentes. A inteligência ordenadora é também criadora, deve ser subsistente por si mesma, infinitamente perfeita e criadora, atributos estes que só a Deus convém.
Quanto a Filosofia e a Teologia dá uma solução precisa e definitiva mediante uma distinção clara entre as duas ordens, ele elimina a concepcao da doutrina da iluminação agostiniana que confudia os conceitos teologicos e filosoficos entre si, por outro lado ele distingue e harmoniza razão e fé. Segundo Tomás a demonstração racional em matéria de fé, so é possível onde os princípios são, para nós, não evidentes, transcendentes à razão, mistérios, e igualmente ininteligíveis suas condições lógicas . Podemos dizer ainda que a novidade que do pensamento do Aquinate se faz tambem com relacao a caracterizacao do individuo da seguinte forma: materia mais forma é igual a essencia mais ser que por sua vez é igual a substancia mais acidente que tem como resultado fianl o Individuo. Logo para Santo Tomas é necessario o ser passar pela essencia das coisas, essa é caracterizada como um significao em si, onde consequentemente o er é manifestacao do significado existente, porque ele tm que passar pela essencia das coisas.
Diante das explanações acima, podemos entender então o que foi o pensamento de Santo Tomás e o tomismo propriamente dito. Este vem a ser uma doutrina ou filosofia escolástica de São Tomás de Aquino como uma crítica à concepção platônico-agostiniana, em que o conhecimento humano depende de uma particular iluminação divina; pode-se afirmar que o pensamento tomista marca o início da filosofia no pensamento cristão como tambem o início do pensamento moderno, em que nessa a filosofia é tida como a construção autônoma e crítica da razão humana, sendo portanto um pensamento eminentemente crítico.
No ambiente eclesiástico, três Papas declaram que “A Igreja fez sua a doutrina de S. Tomás”; são eles: Pio XI, na Encíclica Studiorum Ducem; Bento XV, na Encíclica Fausto Appetente; João XXIII, na Alocução de 16.09.60. Além do Papa Leao XIII, considerado como discipulo de Tomás, escreveu a Encíclica Aeterni Patris, de 1879, neste destacou a importância do retorno à Filosofia de São Tomás de Aquino. Anos mais tarde, temos duas recordações do Papa João Paulo II ao Filósofo, a primeira, por ocasião da Celebração do Centenário da Encíclica Aeterni Patris e, a outra, por ocasião do Congresso pelo Centenário da morte do Papa Leão XIII na Encíclica Fides et ratio.
Segundo o site do Vaticano, o Aquinate “não quis inovar em seus estudos filosóficos e sequer quis instituir um novo sistema filosófico, criar uma filosofia sua, mas uma da verdade das coisas, do ser das coisas” mas não se pode deixar de perceber que o seu pensamento marcou efetivamente a filosofia.
Este trabalho foi de profunda contribuição para minha formação pessoal, a partir dele pude entender e compreender melhor a importância desse santo erudito para a Igreja e para minha vida pessoal. Tal como ele viveu só para a Igreja, também eu posso dedicar-me a ela e contribuir com minha formação para o bem dos irmãos leigos dentro e fora da Igreja. Pude compreender também que Deus pode ser alcançado pela Fé e pela Razão, em que ambas podem me fazer alcançá-lo de modo sublime e lógico.

Referência:
Bittencourt, Dom Estevão, Escola Mater Ecclesiae, Curso de Filosofia, p.182.
COLLINSON, Diané. 50 grandes filósofos. São Paulo: Contexto, 2006, 3ed., p.61-66.
MARÍAS, Julián. História da Filosofia. São Paulo: Martins Fontes, 2004, p. 179-187.
http://www.mundodosfilosofos.com.br/aquino2.htm acesso em 27 de maio de 10.
http://www.lepanto.com.br/dados/HagTomas.html acesso em 24 de maio de 10.
http://www.oarcanjo.net/site/index.php/blog/santo-tomas-de-aquino-doutor-angelico/ acesso em 23 de maio de 10.
http://www.aquinate.net/portal/Tomismo/Tomistas/tomistas-papa-leao-XIII.htm acesso em 02 de junho de 10.
http://www.aquinate.net/portal/Tomismo/Filosofia/tomismo-filosofia-tomista.htm acesso em 02 de junho de 10.

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