quinta-feira, 10 de junho de 2010

O RESPEITO AOS MENORES!

Trabalho sobre o filme “Criança a Alma do negócio”.

O presente trabalho é uma tentativa acadêmica de se refletir e questionar a publicidade infantil quando esta evidencia problemas como: o consumismo, a erotização precoce, a incidência alarmante de obesidade infantil, a violência na juventude, o materialismo excessivo, o desgaste das relações sociais e a relação dos sonhos e desejos das crianças junto à mídia como veículo de comercialização para atrair fundos para grandes e pequenas empresas/agências a partir da visualização do documentário produzido por Estela Renner e Marcos Nisti : “Criança, a alma do negócio”.
A autora e idealizadora Estela do documentário o fez partir da percepção da sabotagem da infância de nossas crianças pelo excesso de publicidade dirigido às mesmas, onde os pais, na maioria das vezes ou não percebe ou não sabem como agir perante os desejos de seus filhos de comprarem-comprarem, consumirem indiscriminadamente.
As abordagens feitas pelo filme nos fazem perceber que a criança é tratada com desrespeito, pois, estão inseridas numa lógica de mercantilização, onde o enfoque é a obtenção de lucro, expondo-as a uma tensão já de adultos, gerando então, uma quebra das fases infantil, onde a criança é estimulada constantemente a ser tão consumista quanto um adulto. Por outro lado o filme escancara a perplexidade do cenário televiso e midiático como um jogo desigual e desumano, feito com a criança, e por sua vez com sua família, convidando-nos a refletir sobre o papel da mídia sobre o futuro da infância de nossas crianças.
Ao adentrar em agências e/ou emissoras de comerciais, de propagandas televisas ou de outras mídias a criança tem muitas das vezes uma perda da relação infância-juventude, do lúdico, do cantar, dançar, representar, apenas para se divertir, já que desde muito cedo tem que lidar séria e responsavelmente com basti¬dores, sets, câmera, participar de desfiles, show, tem de enfrentar horas de gravação submetidas à intensa iluminação e alta temperatura onde ela é avaliada para ser eleita por uma equipe de profissionais, uma banca de calouros ou o público de um país como a melhor.
O papel desempenhado pela mídia é de manter uma persuasão poderosa e freqüente já que a “publicidade não joga para perder". Ao apresentar uma programação específica para o público infantil a televisão traz programas diversificados de desenhos animados; para os adolescentes uma série de seriados nacionais e internacionais que em nada acrescentam a formação moral e educativa dos jovens; no cinema há grandes produções avançadas tecnologicamente (imagens 3d) destinadas as crianças e adolescentes; de todas as idades; na mídia impressa e informatizada, aproveitam o poder das cores, dos desenhos e dos jogos cada vez mais atrativos; na maioria desses programas há cenas de violência que depois é traduzida em realidade aos lares não só brasileiros mais no mundo todo, tudo isso leva consequentemente, a criança e o adolescente ao sonho e a não realidade, causada por uma forte influência cultural da nossa sociedade que não os vê como sujeitos em desenvolvimento.
Mas pais, escola e a sociedade como um todo, há que se estabelecer critérios a que programas a criança deve assistir, pois estas gostam de imitar tudo o que vêm ou lêem, muitos programas veiculados pela mídia influenciam enormemente a criação e o desenvolvimento da criança fazendo-as ser violenta, agressiva, desrespeitosa aos pais e demais adultos, aprendem e por isso, falam palavrões e adquirem uma mentalidade cruel do mundo.
O que se percebe, então, é uma distorção do mundo imaginário, do verdadeiro “mundo encantado”, uma ilusão utópica, uma vez que, as crianças que são praticamente induzidas a viver num mundo de sonhos e fantasias onde o bem vence o mal, o bandido é preso ou exterminado, a princesa encontra o príncipe etc., e todas terminam sempre com um final feliz, elas estão tão imbuídas pelo universo midiático, só têm ouvidos e olhos para os eletrônicos, que o que as pessoas falam ao seu redor não representa nada, tornam-se verdadeiros robôs, como se o mundo fora da tela não existisse, por sua vez o final feliz das historias que lêem ou assistem, as decepciona porque ao se deparar com a realidade em que vivem, percebem que não é bem assim, que há uma diferença entre a sua vida habitual/quotidiana e o que vêm na mídia.
Sabendo que a atividade de representar para a criança é algo muito natural estudiosos como Walter Benjamin, Jean Piaget, Vigostky, Wallon e outros dizem que o ingresso da criança no mundo da imaginação, faz com elas se transformem em incontáveis personagens, já que assumem papéis referentes a mundos próximos ou distantes a si e esse fazer-de-conta as conduz a um aprendizado importante de sua faixa etária, por conseguinte, é pelo brincar, pelo terreno do lúdico que a criança descobre o prazer, o mundo e suas regras, seus limites e possibilidades.
Voltando ao filme o mesmo aborda questões essenciais à criança no que diz respeito ao seu desenvolvimento, sua formação e valorização como sujeito, como cidadão. O fato é que não há preocupação da mídia com a criança e adolescente do nosso Brasil, o que se percebe é o pouco caso que ela faz das crianças. Jornais como ‘O Globo’, ‘JB’, ‘O Dia’ e ‘O Fluminense’ têm uma postura sensacionalista e massacrante das realidades diárias, mostram matérias sobre crianças numa ótica financeira favorável a empresas e ao comércio, estão mais preocupados com o mercantilismo, com o lucro advindo delas, do que de fato com o que elas são e representam em nossa sociedade atual.
Vez por outra, vemos uma ou outra informação, envolvendo criança e adolescentes, geralmente são abordagens de tragédias relacionando drogas, crimes e miséria a crianças ou de crianças que possuem computadores e são os maiores feras no vídeo game, enquanto que as outras desfavorecidas, brincam com pedaços de brinquedos "quando têm".
Pelo vídeo foi-nos permitido perceber que a exposição da imagem da criança na mídia (TV) constitui a possibilidade real de oferta para ela de um futuro promissor. Há por meio dos veículos de comunicação uma promessa de futuro melhor tanto para a criança como para a sua família, gerando por sua vez uma sobrecarga de responsabilidade posta sobre os ombros das crianças que sustentam com seus ganhos a família inteira, dessa forma há uma inversão clara da responsabilidade da criança em relação às do adulto, mas na verdade quem fica com os lucros são os anunciantes enquanto que as crianças arcam com o prejuízo de sua infância encurtada.
O vídeo traz a tona também a importância maior que há no ter do que no ser, deixando claro assim, que as profundas desigualdades sociais, que há em nosso país, não poderão ser solucionadas a médio e curto prazo.
São oferecidas às nossas crianças, de modo geral e indistintamente, sem a preocupação de que região que moram ou qual a renda familiar que possuem, a possibilidade de serem “fashion”, de serem “a melhor”, de serem o máximo, de estarem sempre “por cima”, na moda, ter é ser para a TV. Percebe-se também a mídia é retratada como a “solucionadora” dos problemas sociais, como a realizadora dos seus desejos, pois a elas é dito que é possível ter tudo o que querem é só: pedirem para seus pais.
O documentário revela que por estarem muitas e muitas horas diante da TV e dos seus anúncios perversamente consumistas e repetitivos, as crianças dão mais importância aos produtos comercializados e tecnológicos, do que às tarefas escolares, às brincadeiras tradicionais, aos encontros de amigos, às brincadeiras de rua, ao faz-de-conta, gerando nelas características exacerbadamente consumistas muito mais que os adultos. Como exemplo, citamos um trecho do comentário do site do Instituto Alana :
“O resultado disso é devastador: crianças que, aos cinco anos, já vão à escola totalmente maquiadas e deixaram de brincar de correr por causa de seus saltos altos; que sabem as marcas de todos os celulares mas não sabem o que é uma minhoca; que reconhecem as marcas de todos os salgadinhos mas não sabem os nomes de frutas e legumes.”

Elas preferem ir aos ao shopping à brincar, conhecem marcas pelo logotipo, preferem biscoitos ou outro gêneros alimentícios por causa da figura de um personagem conhecidíssimo na TV ou no cinema, e apesar de terem uma vasta coleção de brinquedos e jogos se encantam mesmo é por um pequeno bonequinho de plástico que acabou de aparecer na TV como o melhor, são capazes de ter “milhares” pares de sapato e mesmo assim quererem comprar mais um.
Trazendo em foco o amparo fundamental de proteção à infância que a criança tem pela Lei o Estatuto da Criança e do Adolescente, estabelece horários especiais para o desenvolvimento das atividades infantis, exige a freqüência obrigatória na escola, proíbe o trabalho para menores de 14 anos, no que se refere as suas atividades no contexto da comunicação midiática, mas essa ‘proteção’ muitas das vezes não é efetiva e concreta. O Conselho de Autorregulamentação Publicitária, (CONAR), criou normas a respeito das propagandas infantis, mas como é um órgão corporativo, pouco pode fazer. Existe um projeto de lei que regulamentaria de forma mais especificada a questão da publicidade dirigida às crianças, mas cada etapa pode demorar até sete anos para ser aprovada, e muitas vezes a propaganda já entrou e saiu da transmissão.

Levando nossas reflexões para o campo do comércio são oferecidas loja de móveis, de brinquedos de roupas, salão de beleza e casa de festas como opções para o público infantil e sendo oferecidas oportunidades de negócio para muitos adultos por meio de empregos e renda extra “em cima das crianças”. Pesquisas, também revelam que o mercado mais promissor do momento é o de quem oferece trabalho completo na área infantil.
Dados da Associação Brasileira de Fabricantes de Brinquedos (ABRINQ) mostram que a indústria do setor infantil fatura milhões a cada ano com o consumo infantil no Brasil que por sua vez continua crescendo alarmantemente, a ABRINQ aponta ainda que muitos comerciantes estudam e pesquisam qual o melhor produto e qual o diferencial dos seus serviços, por exemplo é possível encontrar um salão de beleza para crianças com um cenário adaptado que tenha brinquedos, TVs, vídeo-games, balas decorando o salão, vários camarins, atendo assim, a uma demanda cada vez maior para obtenção de clientes mais satisfeitos seja infantil seja adulto. Quanto a isto testemunha a empresária Flávia Klinger:
"As crianças ficam muito tempo na frente da TV e jogando videogames, sobrando pouco tempo para os brinquedos. O diferencial do mercado está nos produtos que despertam a vontade de brincar das crianças".

Por fim, concluímos que o primeiro passo que devemos ter é começar a lutar por uma mudança de valores na nossa sociedade, tentando tirar as crianças da frente das telas de TV, jogos e outras mídias, fazendo-as sair da semi-hipnose e apatia para prática de esportes, alimentação saudável, mais convívio com a família e com os amigos, mais contato com a natureza, leitura e brincadeiras.
Para isso nossa sociedade precisa adquirir uma consciência mais crítica a respeito do que se produz na mídia para crianças e com crianças, rompendo com a massificação da indústria cultural do consumismo, do capitalismo. Por outro lado é preciso agir com mais veemência quanto à proibição legal do que se vincula e se expressa na comunicação mercadológica dirigida à criança no Brasil.
Levantamos o questionamento ainda com referência aos pais serão eles de fato responsáveis pelo consumismo de seus filhos? Ou não são mais uma vítima da propaganda capitalista vincula pela mídia indiscrinadamente?
É preciso, portanto, que educadores, família e sociedade se juntem em defesa da criança, dos seus valores, protegendo-as das ofertas perversas que lhes são feitas pelos veículos de comunicação, afim de que tenham uma infância e juventude preservadas e vividas com toda a sua totalidade.

REFERÊNCIAS

http://www.alana.org.br/CriancaConsumo/Biblioteca.aspx?v=8&pid=40 acessado em 20-11-09.
http://diganaoaerotizacaoinfantil.wordpress.com/2009/06/17/compra-mae/ acessado em 20-11-09.
http://www.planalto.gov.br/ccivil/LEIS/L8069.htm acessado em 20-11-09.
http://br.youtube.com acessado em 15-11-09.
http://www.sebraesc.com.br/novos_destaques/oportunidade/default.asp?materia=11893 acessado em 10-11-09.
http://eduquenet.net/midiaecrianca.htm acessado em 10-11-09.

Nenhum comentário:

Postar um comentário